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Parnaíba, São Paulo, Brazil
Criei um espaço para brincar com o Cordel e a familia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Há muito tempo atrás....

Lembrei de uma história
Que minha sogra contava
Do seu tempo de criança
Quando no sítio morava
E então fiz um cordel
Da parte que ela falava.

Óleo de Rícino


Eu e meus nove irmãos

Éramos crianças normais

Morávamos em uma chácara

Com árvores colossais

Cheias de doces frutas

Plantadas por nossos pais.


Mas existia uma hora

Que eu queria esquecer

Não lembrar o ritual

O cheiro e o proceder

Dia de tomar purgante

Para a lombriga morrer.


Cinco horas da manhã

O sol nascia lá fora

Eu sei sonhava gostoso

Nada importava agora

De repente aquela voz

Crianças! Está na hora!


Meus pais entravam dizendo

Hora da pílula tomar

Para crescer, ficar forte

E os vermes espantar

É para tomar em jejum

E todas as bichas matar.


Cristão que ali estivesse

Procurava logo correr

Tomar aquele remédio

Era pior que morrer

Meu irmão mais velho

Ia pro mato se esconder.


Temido óleo de rícino

Panvermina pegajosa

Um enorme comprimido

Cápsula nada cheirosa

O enjôo vinha logo

Eu chorava nervosa.


A minha irmã caçula

Dava a maior canseira

Bebia três copos d’água

Para engolir a baboseira

Tinha muita pena dela

Pois não era brincadeira.


Farmacêutico que inventou

Esse troço deprimente

Porque não deu pra mãe dele

Antes de vender pra gente?

Queria ver a cara dela

Com certeza descontente.


Depois que todos tomavam

O remédio repugnante

Tínhamos que esperar

O efeito do purgante

Uma bela diarréia

O diabo era laxante.


Todo mundo com fome

As barrigas só roncavam

O martírio era grande

Porque as tripas dobravam

Parecia que as bichinhas

Uma saída procuravam.


Não tinha banheiro suficiente

Na hora do efeito esperado

Todos corriam pro mato

E atrás da planta acocorado

Faziam a necessidade

Tendo o bucho aliviado.


Mas era apenas um dia

No nosso alegre viver

Prefiro lembrar os doces

Que comíamos com prazer

De caju, leite e goiaba

Que mamãe sabia fazer.


Rúbia do Espírito Santo

Setembro de 2010.

2 comentários:

  1. Rúbia. Achei fabuloso este novo cordel Pelos meus parcos conhecimentos da lìngua portuguesa( hoje, Rúbia, parece que não sei mais nada) não há o que corrigir. Gostei muito do tema. Lá em casa havia também essa peleja.mas como éramos apenas 3 meninas parece que o ritual era mais leve e o remédio era o tal de óleo de rícino... grosso horrível. Eu chorava muito e o papai que tinha uma quedinha por mim se levantava e ia me ajudar e até diminuía a minha colherada... Disso nunca tive saudades... mas lendo hoje o seu cordel pagaria o pouco dinheiro que tenho para estar ainda naquela nossa casinha, todos juntos. Desculpe o desabafo.
    Um abraço afetuoso para você.
    Miriam Castelo Branco

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  2. Garota prodígio, que grande inspiração heim? Você me levou à minha infância quando meu pai precisava colocar um cabo de vassoura na minha boca e esperar aquela coisa escorrregar pela goela abaixo; não gosto nem de me lembrar que me dá náuseas. bjs
    Mercedes Stoppa

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