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Criei um espaço para brincar com o Cordel e a familia.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A MÃE DE CHAPEUZINHO - Oficina de Cordel





A Mãe de Chapeuzinho Vermelho

Ser a mãe da chapeuzinho
É deveras complicado
Manda filha pra floresta
Enfrentar lobo malvado
Menininha indefesa
Inocente com certeza
Uma presa pro safado.

Já sabendo do perigo
Seu coração entristece
A mãe lança sua filhota
Com conselho e uma prece
Rumo ao desconhecido
Deste mundo poluído
Que a vida oferece.

Presumindo que a menina
Poderá se machucar
A mãe, mesmo aflita,
Deixa a filha passear.
Entrega nas mãos de Deus
O que são medos só seus
Se ajoelha pra rezar.

Nossos filhos não são nossos
O “profeta” antes falou.
“Chapeuzinho” representa
O que toda mãe passou
Expor a filha querida
Aos percalços dessa vida
Que o mundo preparou.

Rúbia do Espírito Santo
São Paulo, Março de 2010
Inspirado na história “Chapeuzinho Vermelho”


Desenho do Renan T. Duarte.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

DELAÍDE ARANTES.

3/04/2011 DO BLOG DO PESSOA

LEITOR: Um exemplo de vida para o Brasil De doméstica a ministra


Antes de tornar-se advogada, a nova integrante do Tribunal Superior do Trabalho, Delaíde Arantes, precisou lavar muita louça e usar o escovão
de aço para conseguir pagar os estudos
LEMBRANÇA
Quando empregada, Delaíde não recebia nem um salário mínimo
O gabinete da mais nova ministra do Tribunal Superior do Trabalho, Delaíde Miranda Arantes, teria tudo para ser apenas mais uma suntuosa sala de trabalho do primeiro escalão do Judiciário não fossem duas pequenas fotos em preto e branco que decoram a mesa de trabalho da magistrada. Diminutas quando colocadas naquele amplo cenário de 70 metros quadrados com uma vista privilegiada do Lago Paranoá, as fotografias destoam da pompa que as cerca não pela simples moldura de madeira, mas sim pelo que retratam: duas dessas casinhas simplórias do interior rural brasileiro, pintadas com cal, com duas janelas e uma porta. As duas estão postadas sobre a longa mesa onde Delaíde dá expediente desde o dia 24 de março e dividem espaço com computadores de última geração, estantes repletas de obras de encadernação luxuosa e com móveis modernos que dão um ar sobriamente requintado ao gabinete.
As duas fotografias de cerca de 15 centímetros foram os únicos artigos pessoais que Delaíde levou para o gabinete. “Essas fotos são muito importantes para mim”, diz a ministra. “Foi nessas casas que passei minha infância, uma infância dura que me preparou para enfrentar todos os desafios que me fizeram chegar até aqui. Foi lá que comecei minha história.”
Em um país onde a inércia social sempre foi regra, Delaíde tem razão em orgulhar-se das duas pequenas casas que representam a epopeia que fez essa goiana de 58 anos abandonar a dura realidade do Brasil rural da década de 50 para alcançar um dos maiores postos do Judiciário brasileiro. Delaíde nasceu em uma delas, na pequena cidade de Pontalina, a 120 quilômetros da capital Goiânia. Filha de pequenos agricultores, passou a infância entre a diversão nas jabuticabeiras do sítio e a lida nas pequenas lavouras de feijão, arroz e milho que sustentaram sua família por décadas. “Aos 8 anos eu já ajudava meu pai na roça”, conta Delaíde.
“O trabalho duro me humanizou, sou uma privilegiada”
Delaíde Miranda Arantes, ministra do Tribunal Superior do Trabalho
Aos 16 anos, a ministra enfrentou o dilema que até hoje divide famílias rurais Brasil afora: continuar no campo trabalhando a terra pouco produtiva ou seguir para a cidade em busca de emprego para dar continuidade aos estudos. Optou por ser empregada doméstica a fim de conseguir estadia, comida e algum dinheiro para poder concluir o segundo grau. Por dois anos dividiu os cadernos com o escovão de aço, o ferro de passar roupa e a incômoda situação de saber ser explorada. Mesmo trabalhando as regulamentares oito horas diárias não recebia nem o equivalente ao salário mínimo. “Eu nem ao menos me lembro quanto era, mas só sei que era pouco, muito pouco.”
Foram dois anos assim. Ao terminar o segundo grau, Delaíde seguiu para Goiânia. Estava decidida a tornar-se advogada. Sem dinheiro para fazer um curso preparatório para o vestibular, começou a trabalhar como secretária em uma revendedora de tratores. “Passei quase dez anos trabalhando de dia e estudando à noite, até me formar em direito, aos 27 anos”, conta a magistrada. Já advogada, Delaíde especializou-se na área trabalhista, montou um escritório próprio em Goiânia e por três décadas defendeu empregados que, como ela na adolescência, se sentiam explorados por seus patrões. No ano passado, Delaíde foi indicada pela OAB para ocupar o cargo de ministra do TST e seu nome foi o escolhido entre outros dois indicados pela presidente Dilma Rousseff.
Agora, a ex-empregada doméstica tem o poder de decidir o destino de pelo menos 11 mil ações trabalhistas que estão sob sua alçada no TST. “São 11 mil processos, são 11 mil vidas. Cada processo é uma vida”, diz a ministra, que promete dar atenção especial àquelas mulheres que, como ela um dia, dedicam-se a cuidar da casa de terceiros. “O fato de o FGTS ser opcional para doméstica é resquício da escravidão. É preciso reformar a legislação trabalhista”, diz. Casada com o ex-deputado Aldo Arantes (PCdoB-GO) e mãe de duas filhas, Delaíde orgulha-se do passado difícil. “Fui privilegiada por Deus por ter tido essa experiência, o trabalho me tornou mais humanista.” As duas fotos em preto e branco sobre sua mesa não deixam ninguém esquecerdisso.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

MONJA COEN




JAPÃO

Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.
Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?
Outra palavra é gaman: aguentar, suportar. Educação para ser capaz de suportar dificuldades e superá-las.
Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas.
Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros.
Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos-
mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água.
Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte.
Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques. Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam. Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão.
Sumimasen é outra palavra chave. Desculpe, sinto muito, com licença. Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver. Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo. Sumimasem.
Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei. Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico. As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas. Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer : todas. Todas eram e são pessoas de meu conhecimento. Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência. Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
Mãos em prece (gassho)
Monja Coen













quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fábula de Esopo


A Lebre e a Tartaruga

Numa floresta distante

Distante e encantada

Todos os animais falavam

Numa conversa animada

Sobre suas qualidades

Na vida da bicharada.


A coruja se diz sábia

O pato bom nadador

A raposa muito esperta

O macaco saltador

O leão sempre valente

E o canário é cantor.


Chegou a vez da lebre

Dizer da velocidade

Todos prestavam atenção

Para ver se era verdade

Aposto quem me alcança

Daqui até a cidade.


A quieta tartaruga

Resolveu argumentar

A rapidez é secundária

Quando se quer alcançar

Um objetivo na vida

Posso agora lhe provar.


Marcaram então a corrida

Na estrada um dia inteiro

A lebre saiu na frente

Com o passo bem ligeiro

Devagar a tartaruga

Rumou no seu traseiro.


No meio da maratona

Dona lebre fome sentiu

Resolveu então parar

Na lanchonete que viu

Comeu tanto sanduíche

Que a tarde toda dormiu.


Lentidão das tartarugas

Passo a passo devagar

Todavia caminhando

Uma hora vai chegar.

E chegou à frente da lebre

Para a aposta ganhar.


A lebre acordou tarde

Subestimando a rival

“Devagar se vai ao longe”

Diz o ditado afinal

Que ESOPO aproveitou

Nessa fábula animal.


OFICINA DE CORDEL

Rúbia do Espírito Santo

São Paulo, 6 de abril de 2011.