Óleo de Rícino
Eu e meus nove irmãos
Éramos crianças normais
Morávamos em uma chácara
Com árvores colossais
Cheias de doces frutas
Plantadas por nossos pais.
Mas existia uma hora
Que eu queria esquecer
Não lembrar o ritual
O cheiro e o proceder
Dia de tomar purgante
Para a lombriga morrer.
Cinco horas da manhã
O sol nascia lá fora
Eu sei sonhava gostoso
Nada importava agora
De repente aquela voz
Crianças! Está na hora!
Meus pais entravam dizendo
Hora da pílula tomar
Para crescer, ficar forte
E os vermes espantar
É para tomar em jejum
E todas as bichas matar.
Cristão que ali estivesse
Procurava logo correr
Tomar aquele remédio
Era pior que morrer
Meu irmão mais velho
Ia pro mato se esconder.
Temido óleo de rícino
Panvermina pegajosa
Um enorme comprimido
Cápsula nada cheirosa
O enjôo vinha logo
Eu chorava nervosa.
Dava a maior canseira
Bebia três copos d’água
Para engolir a baboseira
Tinha muita pena dela
Pois não era brincadeira.
Farmacêutico que inventou
Esse troço deprimente
Porque não deu pra mãe dele
Antes de vender pra gente?
Queria ver a cara dela
Com certeza descontente.
Depois que todos tomavam
O remédio repugnante
Tínhamos que esperar
O efeito do purgante
Uma bela diarréia
O diabo era laxante.
Todo mundo com fome
As barrigas só roncavam
O martírio era grande
Porque as tripas dobravam
Parecia que as bichinhas
Uma saída procuravam.
Não tinha banheiro suficiente
Na hora do efeito esperado
Todos corriam pro mato
E atrás da planta acocorado
Faziam a necessidade
Tendo o bucho aliviado.
No nosso alegre viver
Prefiro lembrar os doces
Que comíamos com prazer
De caju, leite e goiaba
Que mamãe sabia fazer.
Rúbia do Espírito Santo
Setembro de 2010.